O
texto abaixo foi publicado na revista Sabiá, edição número 64, de
novembro de 2013, sob o título de “Uma abordagem criativa.” Por
falta de espaço, o primeiro
parágrafo ficou de fora. Então o incluo abaixo.
A
lei federal 11.769 obriga todas as escolas do país a oferecer
cursos de música. Esta é uma lei nova, de 2008. Não é a imposição
legal que faz da Escola Suíça uma das que mais investe no
aprendizado desta disciplina no Brasil. Nossa escola antecipou – se
em décadas à percepção dos políticos. A “ficha” da educação
musical caiu há muitos anos por lá e cai agora finalmente por aqui:
estudar a arte dos sons traz múltiplos benefícios à criança em
idade escolar. Porque é assim? O que a música, essa miscelânea (às
vezes confusa) de sons tem para oferecer afinal? Para rastrear tais
razões precisaremos ir além da superfície dos fatos.
Anne
Bamford, diretora do Engine Room project da University of
the Arts of London tem dedicado sua carreira a
examinar o impacto das artes na sociedade e à função da
criatividade na educação. Ela explica que a neuroplasticidade do
cérebro de toda criança tem capacidade ilimitada de formar novas
conexões e redes. Isso significa que, ainda pequenos, todos nós
temos um ilimitado potencial para pensar lateralmente.
O
tipo de experiência a que a criança será exposta, principalmente
na escola, é que ampliará ou reduzirá tal potencial. Isto,
segundo a pesquisadora, não tem muita relação com o pensar
acadêmico.
“
Se
a criança não encontra um contexto para expressar sua
necessidade artística ou criativa, ilustra
Bamford, ela vai achar formas distorcidas de
fazê -lo, através de comportamentos
inadequados e de indisciplina.
O
ensino de música com uma abordagem criativa aumenta a felicidade,
torna o aprendizado divertido, ensina as crianças a lidarem com o
inesperado. A ênfase no universo sonoro e estético convida à
percepção mais apurada de si mesmo e por consequência do outro.
São introduzidos parâmetros para avaliar o Belo. Pensar sobre a
percepção integra hemisférios esquerdo e direito do cérebro,
desvela o mundo subjetivo, a realidade interior, a inteligência
emocional.
Tocar
em grupo requer silêncio, disciplina e concentração. Não se faz
nada com qualidade sem esses quesitos. Chamamos atenção para o
prazer de se escutar o silêncio. Silêncio. A tela branca sobre a
qual os acordes serão pincelados. Parece fácil ao dizer mas sabemos
que não não o é. O silêncio, a disciplina e a concentração são
ideais buscados em cada próximo minuto de convivência.
Mas
há o outro lado. A liberdade de ousar, de pular no caldeirão
criativo; viver a experiência do entusiasmo. É preciso aprender a
lidar com uma pitada de caos, onde as novas ideias são geradas. O
caldo criativo necessita liberdade de expressão e enorme tolerância
ao erro. Quem não sabe errar não sabe criar (também conhecido como
quem não arrisca não petisca).
Traçando
um rápido perfil do ensino musical na escola, o ponto de partida
foi, como era de se esperar, a integração das abordagens
pedagógicas suíça e brasileira. Oferecemos a vivência e o
ambiente de aprendizado, em contraponto ao trabalho acadêmico das
demais disciplinas. Damos ênfase à socialização e à valoração
das diferenças, dos talentos individuais. Nosso jeito de trabalhar,
de organizar o mobiliário e de avaliar é um pouco diferente. Somos
atentos à comunicação não verbal, aos altos e baixos. Trabalhamos
com um aparelho chamado “autoestimômetro”. Buscamos de um lado a
inclusão do aluno com dificuldade de aprendizado e de outro a
excelência do resultado sonoro. Seguimos o caminho, equilibrando-nos
sobre esta linha de aparente paradoxo.
Os
alunos iniciam a jornada pequeninos no ensino fundamental, com noções
de musicalização e com os primeiros contatos com um instrumento: a
flauta. A experiência com o instrumento se expande no fundamental
dois, com quatro novos cursos. Bateria, teclado, violão e flauta
transversal. A teoria é trabalhada em uma aula específica. As
crianças aprendem a enxergar a música como uma língua que expressa
sentimentos. Crescem mais integrados; mais cientes de si mesmo (e
portanto, mais cientes do outro). Com o ensino médio vem o
amadurecimento da vida musical, uma maior especialização e busca
por excelência. Colhem - se os frutos plantados ao longo dos anos.
Há
muito pouco tempo atividades como Música e Trabalho Acadêmico eram
vistos como mutuamente excludentes. Hoje temos farta evidência da
correlação entre o pensamento criativo e o desempenho excelente em
línguas, matemática e ciências. Precisamos aprender a ver a música
não mais como lazer ou passatempo, mas como recurso econômico;
atividade que multiplica inteligências, e agrega valor. O mundo hoje
é parecido com a sonata número um em Fá menor de Beethoven. Deve
ser tocado em tempo prestissimo. E quem não aprender a tocá -lo vai
ficar para trás.
Bibliografia.
IB
World magazine: Article - Creativity: It’s not what you know...
http://www.ibo.org/ibworld/may2011/leadfeaturecreativity.cfm
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