sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dissecação



Um ótimo aluno da oitava série, muito interessado em música questionou - me esta semana sobre o método de composição do estudo apresentado no vídeo acima. O estudo foi feito para dele eu extrair a introdução da ótima canção do meu amigo Alexandre Murashima
Pret a Pate no Ateliê 
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Vale uma visita no link do Murashima. Escute a peça citada para absorver o seu clima harmônico e melódico, que será utilizado como base para compor este aqui. Descreverei o método de construção da peça, o que usei e como usei.  A harmonia e escalas usadas, e outros truques melódicos. Considero esta uma tentativa meia boca de misturar estilos diferentes na mesma peça. 
No caso, Jazz com  Sertanejo (!?)
Lembram do conceito de música pós - moderna que já tratei neste Blog?

 

A primeira gambiarra foi a escolha da afinação. Como a peça do meu amigo é em Dm (ré menor), abaixei a afinação em um tom. Assim ao tocar um desenho de Em (mi menor) estamos ouvindo na verdade um Dm. Porquê? Para utilizar mais recursos de baixo com a quinta e com a sexta cordas.  
Sigamos.
Os 16 primeiros compassos foram baseados na harmonia original da canção do meu amigo, conforme segue: Dm A7 Dm D7 Gm % A7 % Dm com repetição e casa dois no final. 
Comecei usando um Walking Bass cromático de uma oitava e melodia em mínimas. O acorde de C# diminuto substitui a dominante (D7) com um clichê do acorde diminuto tocado ascendente e depois descendente. Segue outro clichê sobre Gm (sol menor) com a tônica caminhando cromática na direção descendente até a sétima menor. Uma frase melódica faz a harmonia voltar ao dominante (A7). Utilizo muito a escala alterada para as frases ascendentes. Veja o momento em que ela circula a dominante ( A7 b5 e A# dim) e como conduz de volta a Dm7 (9) com uma frase ascendente que repousa na nona. Segue rápido fraseado ascendente sobre arpejo do acorde de F 7M (#5) seguida por escala dominante diminuta, para terminar em Dm 7M em arpejo descendente, com o baixo em D na sexta corda solta (Viu como valeu a pena mexer na afinação?). 
Um Turn Around de Blues em Dm fecha o trecho em D7. Um arpejo diminuto descendente com notas duplas conduz a peça para a segunda parte. No vídeo acima eu erro a digitação dessa parte e também na frase seguinte, que termina em Am (lá menor). Assista minha primeira gravação onde a frase é tocada sem erros, embora o som esteja mais distante.
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Na parte B a harmonia se solta mais, citando a parte B da canção do meu amigo, cuja tonalidade é Eb (mi bemol). Passamos pelos acordes Gm7 , Eb 7M , Ab 7M(b5) e Ab dim, sempre intercalados com fraseados sobre escala alterada e diatônica ( intercalada em duas oitavas, alá Steve Howe). Este trecho foi o que menos estudei e está muito mal tocado nos dois vídeos. O próximo trecho apresenta entradas com arpejos agressivos de trítonos duplos e sequências melódicas em terças paralelas descendentes. Primeiro em terças paralelas descendentes e depois com outro mini Walking Bass cromático ascendente para melodia cromática descendente na voz de cima. É o trecho mais estranho da peça. A harmonia vai aos poucos se direcionando para o modo de C mixolidio. A frase anterior à modulação apresenta clichê melódico Blues sobre o acorde de G7. A referência ao Blues foi sugerida pelo meu amigo, que pediu uma peça que lembrasse Joe Pass. Não acho que ela lembre nem de longe Joe Pass. Está muito aquém do mestre, que sempre cadenciava a três vozes. Estou cadenciando aqui sempre a duas vozes, no máximo dobradas por uma terça. O que acontece depois é um pouco antropofágico. Um Riff  com pergunta e resposta meio moda de viola sertaneja em sextas, sobre o C mixolidio. Estamos voando sem escalas de New Orleans para Piracicaba
Terminado o trecho alá Almir Sater, outro Turnaround de Blues reconduz a peça à tonalidade de Dm (ré menor). A frase seguinte usa um arpejo ascendente de Dm (ré menor) seguido pelo arpejo ascendente de C# Diminuto até novamente a tônica D (Com a harmonia do início: Dm – A7 – Dm). A peça agora está terminando. Segue mais um fraseado sobre Dm – A7 – Dm desta vez com sonoridade abrasileirada. Terminamos com uma cadência em Bb7M – A7 (b13), que prepararia a entrada da melodia principal do meu amigo, sobre Dm. Como estou um tom abaixo, posso usar os sons harmônicos na casa 12 para tocar o Bb7M, com o baixo na casa 8 da sexta corda. Grosso modo, é isso. 
Não há formulas prontas para compor. Por isso é tão gostoso e surpreendente. De onde vem a idéia? Ora, citando mestre Gil: De onde vem o Baião? Vem debaixo do barro do chão... Na verdade, não tenho a menor ideia. Ter algum conhecimento musical ajuda expandindo seus recursos. Caro aluno aspirante. Não desanime! Siga estudando e comece a compor qualquer coisa. Jogue no lixo o perfeccionismo e a auto - crítica. Não combinam com a criatividade. Na verdade, essas coisas atrapalham porque reprimem ideias que poderiam ser boas mas são massacradas logo de saída, antes que tenham uma chance de mostrar seu potencial. Toda ideia no início é um pouco tola. Com trabalho é que ficam boas. Apenas comece. Uma vez aberta a porteira, nunca mais ela se fecha.
Abraços.
 Um artigo sobre esta peça no link abaixo
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